Com
seus grandes olhos que cintilam nas trevas, e sua espantosa capacidade de
sobrevivência, o gato sempre foi objeto de numerosos mitos e superstições,
inclusive o mito das suas nove vidas, iniciado no Egito, onde o nove é um número
mágico e os gatos são condutores da alma dos mortos. Seu comportamento
independente e a agilidade surpreendente despertaram idéias de encantamentos e
adivinhação, ligando-o para sempre no imaginário popular ao mistério e à magia.
Mesmo em culturas em que foram adorados como divindades, os gatos
não escaparam à torturas e mortes terríveis, devidas a seus supostos poderes
sobrenaturais. Em diversas regiões do mundo, gatos eram enterrados por baixo das
plantações após morrerem por espancamento, que simbolizava o amaciamento dos
cereais. Acreditava-se que isto garantia colheitas abundantes, talvez pelo
antigo mito da fertilidade do gato, associado à deusa Bastet. Na Europa de
outrora, além de queimados nas fogueiras por feitiçaria, os gatos eram
emparedados vivos dentro de edifícios em construção, para que o prédio não fosse
atacado por roedores ou espíritos malignos. Gatos pretos foram perseguidos por
supostas ligações com o demônio. Originou-se daí a a crença, na Inglaterra, de
que um gato preto atravessando o caminho é sinal de boa sorte. Boa sorte porque
ele se foi e deixou de fazer-nos mal... Entretanto, na América, a crença
inverteu-se, passando o gato preto a representar perigo.
Ainda na Europa, acreditava-se que um gato com a pata por trás da
orelha ou bocejando era sinal de chuva e que um gato ronronando significava bom
tempo. Também no Camboja os gatos trazem a chuva, existindo mesmo um antigo
ritual em que um gato é levado de aldeia em aldeia e aspergido com água. No
Japão, um gato com a pata levantada é um dos símbolos da boa sorte, conhecido
por Maneki-Neko, e o gato é ainda hoje usado como talismã pelos marinheiros
durante as tempestades.
Na
Tailândia, onde acreditava-se que as almas das pessoas muito evoluídas migravam
para o corpo de um gato e depois subia aos céus, havia um ritual em que um gato
era enterrado vivo junto com o morto. No túmulo havia um buraco para que o
animal saísse, e assim os monges sabiam que a alma já havia penetrado em seu
corpo.
Na
China, atribuía-se aos gatos o poder de se vingarem dos seus assassinos.